Frida nasceu Magdalena. Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderón. Nasceu em julho de 1907, em Coyoacán - à época, uma pequena cidade ou distrito e posteriormente “demarcação territorial” que na prática funciona como um bairro -, na Cidade do México. Ela nasceu e cresceu na casa da família, a “Casa Azul”, que volta a aparecer em sua história anos mais tarde.

Montagem com imagens de Frida Kahlo na infância


 

Guillermo Kahlo & Matilde

O pai de Frida, Guillermo Kahlo (de registro Carl Wilhelm Kahlo), era um alemão que foi para o México no ano de 1891, aos 19 anos. Filho de um joalheiro, há quem diga que sua viagem ao México tenha sido custeada pelo pai, uma vez que Guillermo não se dava bem com a sua madrasta. 

Dois anos após a sua chegada, casou-se com Maria Cárdena Espino e em 1894, ano de nascimento de sua primeira filha Maria Luisa, naturalizou-se mexicano, alternando o seu nome para a equivalente espanhola de Wilhelm (Guillermo).



No ano de 1896, nasce e morre sua segunda filha, também chamada Maria. No ano seguinte, após quatro anos de casamento, ele perde a esposa devido a complicações no parto da terceira filha do casal, Margarita. Há quem diga que nesta mesma noite ele tenha pedido a mão da filha de Antonio Calderón, um fotógrafo, em casamento. Seu nome era Matilde; Matilde Calderón y González, descendente de indígenas e espanhóis. A celebração oficial do casamento se dá um ano mais tarde e, neste intervalo de tempo, as duas meninas do primeiro casamento são enviadas a um convento.
 


Matilde incentivou Guillermo a se dedicar a fotografia e a sua primeira foto registrada é datada de 1899, um ano após o casamento. Do casamento com Matilde, há o registro de cinco filhos. Matilde, a primeira, nascida em 1899. Ariadna, em 1902, um menino, Wilhelm, do qual não se tem registro do ano de nascimento, mas que faleceu em 1906; vem, então, Frida e em 1908, Cristina. Apesar dos filhos, não era um casamento feliz.

(Veja um pouco mais do trabalho de Guillermo e sua influência no trabalho de Frida clicando aqui)

Os primeiros anos de Frida

Em 1913, um acontecimento marca permanentemente a vida de Frida; aos 6 anos de idade ela contrai poliomielite. Ela passa nove meses em uma cama e a doença faz com que a sua perna e pé direitos fiquem mais finos que os esquerdos. Também a deixa com um leve mancar e dores - não apenas físicas -, que a acompanhariam pelo resto da vida. 

No colégio, os colegas zombavam de Frida e a apelidaram de Frida perna de pau, razão que justifica o uso de saias longas até a sua morte. Apesar disso, o pai a incentivava em sua recuperação; ele a levou a esportes bastante incomuns para meninas da época, como o futebol, as lutas e a natação. Os dois mantiveram um relacionamento próximo por toda a vida; estar ao lado do pai a fez acompanhá-lo em seu estúdio em diversas ocasiões, o que contribuiu para o desenvolvimento de um olhar aguçado para os detalhes.

Frida chegou a fazer aulas de desenho, mas estava mais interessada por ciências e pretendia estudar medicina. Em 1922, ela entra para a Escuela Nacional Preparatoria (Escola Nacional Preparatória) da cidade do México. Frida é uma das 35 alunas matriculadas na prestigiada instituição que, recentemente, havia aberto vagas para mulheres. Ela se destacava, ali, por sua rebeldia e por sua franqueza.

Registro de Frida Kahlo na escula nacional preparatoria


É na Escola Nacional Preparatória que Frida encontra Diego Rivera pela primeira vez, enquanto ele trabalhava em um mural para o auditório da escola, chamado A criação. Ela o assistia e costumava dizer para as amigas que um dia se casaria com ele. 

Mural "A Criação" de Diego Rivera na Escuela Nacional Preparatoria do México

Além de Diego, a Escuela também aproximou Frida de futuros intelectuais e artistas mexicanos, como Salvador Novo. Ela foi uma das duas únicas mulheres a participarem de um grupo conhecido como Los Cachuchas que compartilhavam de pontos de vista políticos e intelectuais semelhantes. Eles eram rebeldes, críticos, resistentes às autoridades e protestavam, com frequência, contra injustiças. É por um de seus líderes, Alejandro Gomes, que Frida se apaixona e é com ele que ela está quando sofre seu trágico acidente. 

O Acidente de Frida

 


Em uma tarde de setembro, no ano de 1925, o ônibus em que Frida está colide com um bonde, deixando-a gravemente ferida. Um corrimão de aço a empala pelo quadril, sua coluna e pélvis são fraturadas, além de diversas outras partes de seu corpo. Por conta de seu acidente, Frida precisou se submeter a 30 cirurgias ao longo da vida.

Durante a sua lenta recuperação, ela aprendeu a pintar por contra própria e foi incentivada por seus pais, que fizeram um cavalete especial no qual ela conseguia pintar na cama, além de terem presenteado com pincéis e caixas de tinta. Frida começou a estudar os antigos Mestres. Em um de seus primeiros autorretratos, ela se pinta em um majestoso vestido de veludo; o fundo da imagem contém elementos mais ou menos abstratos, mas há uma modelagem muito suave do rosto que revela o seu interesse pelo realismo. Os dedos e pescoços alongados mostram a influência do maneirista Agnolo Bronzino (II Bronzino).




Frida, a comunista


No ano de 1927, Frida já havia começado a frequentar os círculos políticos, artísticos e intelectuais da Cidade do México. Por intermédio de um líder estudantil chamado Germán de Campo, ela conhece o comunista Julio Antonio Mella, que estava exilado no México com sua companheira Tina Modotti. Tina e Frida logo se tornam amigas e Frida passa a frequentar as reuniões do Partido Comunista do México, organização do qual faziam parte seus amigos cachuchas e também Diego Rivera, que ela reencontra após anos.



Após alguns encontros nas reuniões do Partido, Kahlo procura Diego e pede a ele que avalie alguns de seus trabalhos. Impressionado, Diego encoraja Frida a continuar pintando. Pouco tempo depois, os dois dão início a um relacionamento e se casam - com objeções de sua mãe -, no ano seguinte, em 1929.
 


Com o casamento, nota-se uma mudança no estilo pessoal e na pintura de Frida. Ela passa a se vestir ao estilo tradicional tehuana, com cocares floridos, blusas largas, joias, ouro e longas saias com babados. A pintura Frida e Diego, de 1931, não apenas mostra o seu novo traje, como seu crescente interesse pela arte folclórica mexicana.

Frida Kahlo em um vestido de Tehuana


Período nos Estados Unidos

O casal vive em diferentes lugares por conta do trabalho de Diego. Em 1930 eles se mudam para São Francisco (Califórnia) onde passam seis meses produtivos, primeiro pela aproximação com os artistas Edward Weston, Ralph Stackpole e Nickolas Murray; mas é também nesse período que Frida desenvolve um pouco mais do estilo da arte que começou a adotar. Após o período na Califórnia, vão para Nova York para a mostra de Diego no Museu de Arte Moderna (MoMA)  e depois para Detroit. 

No período dos Estados Unidos, Frida sofre dois abortos espontâneos e um deles leva à pintura do Hospital Henry Ford. Íntima e angustiante, a pintura expressa os seus sentimentos em relação ao seu segundo aborto. No quadro ela aparece deitada nua em uma capa de hospital, cercada por elementos que flutuam. Entre eles está um feto, uma pélvis, uma flor, um caracol e todos os elementos ilustrados aparecem conectados por veias. Durante esse período Frida experimenta diferentes técnicas e começa a adotar um estilo narrativo mais forte em suas pinturas, enfatizando os temas da dor e do sofrimento.  

No ano de 1933, Diego Rivera é contratado por Nelson Rockefeller para criar um mural chamado Man at the crossroads, no Rockefeller Center, levando o casal à Nova York. Diego, no entanto, tenta incluir Vladimir Lenin na pintura, o que desagrada Rockefeller, que manda parar o trabalho, pinta Lênin e encerra o contrato de Rivera. Com isso, o casal retorna para o México e voltam a morar em San Angelo.



A casa de San Angelo, recém construída, era composta por espaços individuais que eram conectados através de uma ponte. Lá ficaram hospedadas grandes personalidades do século XX, como Trotsky e Andre Breton. Aliás, casas e estúdios separados fizeram parte da realidade do casal por anos, que não tiveram um relacionamento exatamente convencional; além das diversas separações, o casamento era marcado por casos extraconjugais de ambas as partes.

Durante o período em que hospedaram Trotsky - comunista exilado e rival do então líder soviético Stalin -, e sua esposa Natalia, Kahlo teve um breve caso com ele. Diego, entre suas inúmeras aventuras, decidiu se envolver com Cristina, irmã mais nova de Frida. Essa traição causou profunda tristeza em Frida, fazendo com que cortasse os cabelos para mostrar a Diego seu desespero.



Frida, a surrealista autodidata

Em 1937 Frida se aproxima de Andre Breton, uma das principais figuras do movimento surrealista. Ela dizia não se considerar surrealista até André Breton ir ao México dizer que ela era.; falava, ainda, que não sabia se as suas pinturas eram surrealistas ou não, mas podia garantir que todas eram expressões verdadeiras de si mesma; eram obras que trabalhavam as suas sensações, estados de espírito e experiências profundas da vida. Andre Breton foi quem escreveu a introdução do folheto de sua primeira exposição individual. Em suas palavras, “Frida era uma surrealista Autodidata”. A exposição em questão foi realizada na galeria Julien Levy de Nova York em 1938 e foi um grande sucesso.
 


Na exposição, Frida vendeu algumas de suas pinturas e recebeu duas encomendas. Uma dessas encomendas era de Clare Boothe Luce, que pediu a Frida para pintar sua amiga Dorothy Hale, que havia tirado a própria vida. O resultado dessa encomenda foi o quadro “The Suicide of Dorothy Hale”, que conta a história do trágico salto de Dorothy, chocando Luce, que quase destruiu a pintura (eu falo sobre isso no twitter também, haha)


Em 1939, Frida é convidada por Andre Breton para ir a Paris expor os seus trabalhos. Por lá, ela conhece Marc Chagall, Piet Mondrian e Picasso. Esse ano ainda é marcado por dois outros acontecimentos importantes na vida de Frida: o divórcio com Diego e a Pintura As duas Fridas.

As Duas Fridas é uma tela absurda, de 1.74 por 1.73m. Ela mostra duas figuras gêmeas de mãos dadas. Cada uma dessas figuras representa um dos lados de Frida, que são opostos, mas coexistem. A esquerda está uma Frida vestida de noiva, ao estilo europeu. Um lado que Rivera supostamente rejeitou. A direita, aparece a Frida de traje tehuana, a que ele mais amava. O coração indígena de Kahlo está em exibição e, dele, parte uma artéria que leva a um retrato em miniatura de Rivera, na mão esquerda de Frida. A outra artéria se conecta ao coração da outra Frida,.

A segunda Frida está com o coração totalmente exposto, revelando a sua anatomia interna. A extremidade da artéria é cortada e ela segura um instrumento cirúrgico que parece conter o fluxo de sangue que escorre em seu vestido.


A separação do casal é breve: em 1940 se casam novamente. Após o segundo casamento se mudam para a Casa Azul, a casa de infância de Frida. O segundo casamento é muito semelhante ao primeiro: mantém vidas e casas separadas, ambos se relacionando com outras pessoas. 

Em 1941, Frida recebe uma encomenda do governo mexicano para criar cinco retratos de mulheres importantes daquele ano, mas não consegue finalizar o projeto. 1941 é o ano da morte de seu querido pai e, não bastando a perda, sua saúde deteriora cada vez mais. No entanto - e apesar de seus desafios pessoais -, o seu trabalho continuar a crescer em popularidade e é incluído em várias exposições coletivas da época.

No ano de 1943 Frida é nomeada professora de pintura em La Esmeralda, a Escola de Belas Artes do Ministério da Educação. Em pinta um de seus auto retratos mais famosos, o La Columna Rota.



No quadro, ela aparece nua, com a coluna partida, usando um colete cirúrgico e com pregos por todo o corpo para representar a sua dor. É uma pintura onde são expressos os seus desafios físicos, já que na mesma época ela havia sido submetida a novas cirurgias e precisou usar espartilhos especiais para proteger a sua coluna vertebral, além de ter buscado durante toda a sua vida tratamentos que aliviassem a dor, sem que nada realmente ajudassem, nem mesmo o álcool e as drogas.

Os problemas de saúde e a morte


A sua saúde piora em 1950, quando recebe o diagnóstico de gangrena no pé direito. Ela fica acamada e é submetida a cirurgias durante esse período. Com muita persistência, continuou a trabalhar e a pintar. Chegou a fazer, em 1953, uma exposição individual no México. A dificuldade de locomoção não a impediu de comparecer a cerimônia de abertura, chegando em uma ambulância e permanecendo todo o tempo em uma cama montada pela galeria.

Poucos meses após a exibição ela é submetida a uma nova cirurgia para amputar parte de sua perna direita a fim de conter a gangrena. A má condição física a leva a uma profunda depressão e muitos acreditavam que Frida possuísse inclinações ao suícido. Com todos os problemas de saúde, ela ainda se mantinha ativa politicamente e apareceu na manifestação contra a derrubada do presidente Jacobo Arbenz da Guatemala, apoiada pelos Estados Unidos. Foi a sua última aparição pública.

Cerca de uma semana após o seu 47º aniversário, Frida morre na Casa Azul. Foi relatado publicamente que a causa de sua morte foi uma embolia pulmonar, embora existam especulações sobre um possível suicídio.