em 1971, joni mitchell lançou blue e redefiniu o que um álbum poderia ser. despojado, confessional e devastador, ele não só elevou o folk a novas alturas como também estabeleceu um novo paradigma para a composição pessoal na música popular. blue não se esconde atrás de metáforas grandiosas ou produções rebuscadas — ele escancara tudo. e talvez seja exatamente por isso que, mais de 50 anos depois, ele ainda soe tão próximo.


o som da vulnerabilidade

joni mitchell sempre teve uma escrita afiada, mas em blue ela levou isso ao limite. suas letras não apenas contam histórias, mas desnudam sentimentos com uma honestidade quase desconcertante. do êxtase ao desespero, do anseio à resignação, cada faixa do álbum é uma janela aberta para sua vida, sem cortinas ou filtros.


tudo começa com all i want, uma introdução agitada e ansiosa sobre desejos que parecem sempre escapar pelos dedos. em seguida, my old man alterna entre doçura e tristeza ao falar sobre amor e ausência. little green carrega uma das confissões mais dolorosas do álbum: a filha que mitchell colocou para adoção, em uma melodia delicada que contrasta com o peso da história que carrega.

o álbum segue oscilando entre saudade e esperança. blue, a faixa-título, é um lamento etéreo, enquanto california traz um alívio momentâneo, com sua melodia mais solar e o desejo de reencontrar um lar verdadeiro. já a case of you é uma das grandes declarações de amor da música, tão intensa que parece se dissolver dentro da própria melodia.


um violão, algumas afinações e um universo inteiro

blue não é um álbum rebuscado. não há camadas exageradas de instrumentos nem produção grandiosa. mitchell deixa a voz e o violão (às vezes o piano ou um dulcimer) conduzirem tudo. e é justamente essa simplicidade que amplifica o impacto.

suas afinações alternativas, que desafiam a lógica tradicional do violão, criam atmosferas únicas. acordes soam abertos, livres, como se estivessem sempre à beira de desmoronar. tudo é pensado para realçar a vulnerabilidade das letras e a entrega emocional de cada música.

ainda ouvimos blue porque ele ainda nos ouve

é difícil encontrar um artista confessional que não tenha sido influenciado por blue. ele abriu caminho para cantores e compositores que tratam a música como diário aberto, de taylor swift a phoebe bridgers, de prince a courtney barnett. mas mesmo com todo o impacto, ele nunca perdeu o frescor. blue não parece um álbum de 1971. parece um álbum de agora — e provavelmente continuará parecendo um álbum do futuro.

se ainda não ouviu, escute. se já ouviu, escute de novo. alguns discos são bons, outros são importantes. blue é os dois.

faixas

todas as músicas foram escritas por joni mitchell.

lado a

all i want – 3:34

my old man – 3:34

little green – 3:27

carey – 3:02

blue – 3:05

lado b

california – 3:51

this flight tonight – 2:51

river – 4:04

a case of you – 4:22

the last time i saw richard – 4:15